Simplesmente não se aguentou de saudades de casa. Colocou seu violão nas costas e procurou a rodoviária mais proxima. Estava longe demais de sua terra natal, de seus amigos e família. Aprendera muitas coisas no tempo que passou longe e só. Seu violão já não era mais solitário e com som disforme, se tornára muito bom na arte de entreter, tinha transformado isso no seu ganha-pão. Foi forçado a isso. Antes se perguntava "por que gastei todo meu dinheiro em porcarias?" e agora sabe que não precisava de muito para ser feliz. Hoje é que sente saudades das coisas que deixou para traz, mas não se arrepende, e nem deve. Se um dia isso acontecer, tenha certeza de que a vida chegará a um fim para ele, pois se lançou atraz de um sonho, foi galgando passos em meio a escuridão procurando por aquilo que achava ser uma maneira digna de se viver. E algo a mais, claro. Não era tratado melhor que um mendigo, mas diferente de um desses, sempre estava bem vestido e com algum dinheiro ao bolso. Demorou a aprender que as pessoas tem diferentes corações, mas uma vez que aprendeu isto, se tornou um ás na arte de anteceder suas intenções. Conheceu mulheres, muitas por sinal, como todo rapaz com os hormônios à flor-da-pele. Se deixou levar por seus instintos. Teve um caso sério aqui ou ali, certa vez quase se casou, mas lembrou-se da mãe que teve destino parecido, pensou não ser uma boa idéia e retirou-se do compromisso. Isso lhe rendera algumas cicatrizes, porém o caminho continuava à sua frente. Eis um ser que arriscou, e errou, muito. Um retorno para sua terra não tira a experiência que adquiriu. Talvez seja um retorno temporário. Sente saudades das tortas salgadas que a mãe fazia e de brincar com a irmã mais nova, que agora não deve ter mais idade para brincar. A espera na rodoviária é longa, porém seu ofício o chama, e seu violão não se aquieta. Eis um ser que arriscou, e acertou, muito. Não só pelas localidades onde esteve, mas pelos feitos que realizou. Uma coleção deles é muito boa. A outra parte dessa coleção não se precisa relatar. Tenho uma pequena inveja dele. Por fim o ônibus, e com ele longas horas até seu trajeto. Poltrona número dez, ele vai e senta-se, ao olhar para o seu lado constata que finalmente chegou o fim de sua viagem. Sente o frio do seu estômago desaparecer. As borboletas começam a sair de seus casúlos e seu estômago aparenta uma tarde de primavera com milhares de botões desabroxando. Eis que com apenas um olhar naquele par de olhos verdes, e ele passa a ter certeza. Certeza absoluta de que sua estrada pela escuridão chegou ao fim. Que encontrou a luz que procurava. Que seu retorno não será apenas um retorno, mas um recomeço. O momento em que conheceu a futura Senhora Rigby. Seu maior triunfo.
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