Já faz um bom tempo que te vejo por aqui. Sempre sentado no mesmo lugar, com a mesma expressão no seu olhar, como se o tempo não passasse, não lhe afetasse ou até contivesse este fogo em seus olhos. Vejo agora o porquê. Quem dera tivesse eu me aproximado antes de ti, teria entendido tudo de uma forma mais rápida.
Não passaste aqui por nada, também vejo isso agora. Alias, não estás nem de passagem, viestes morar aqui, aqui comigo. Não vejo a razão para que isso aconteça, mas sei que o que trazes é bom para mim, pois por mais que tente entender ou enchergar razão nas tuas coisas, não tenho olhos para ver razão em ti.
Já faz um bom tempo que te vejo por aqui. E percebo como este lugar era vazio sem você. O café não tinha o mesmo gosto, as estrelas não brilhavam mais, foi da tua chegada que enfim pude ter alguma paz. Se não tivesse sido cego, teria percebido antes, e corrido direto ao teu encontro, para não deixar que entrasses sozinho por aqui.
Agora eu sinto o sabor das palavras, algo que há muito não sentia, e sinto prazer em ver este fogo queimando em seu olhar. Cego demais fui, mas não quero mais errar. Ao menos não agora que sei o que trouxeste para mim por todo esse caminho.
Tudo se esvai. Meus pensamentos, meus sonhos e até mesmo minhas preocupações, somente agora que realmente percebo a tua presença, da mesma forma que sempre esteve sentado ali, sem mover um palmo ou mudar o gesto em seu olhar. Penetraste aqui, e vieste para ficar.